Iniciativas pioneiras – Segundo o engenheiro elétrico Luciano da
Fontoura Costa, professor do Instituto de Física de São Carlos e presidente
da Comissão do Programa de Doutorado, um dos principais objetivos da
bioinformática desenvolvida atualmente na USP é o compartilhamento das
informações obtidas por meio das atividades de pesquisa de diferentes
grupos de cientistas que se dedicam à genética. “Pretendemos unir esses
dados em uma base que poderá ser, no futuro, disponibilizada na Internet”,
afirma. “Em nosso país, trata-se de um passo pioneiro no caminho da
organização sistemática das informações obtidas pelos estudos da dinâmica
de expressão gênica, que envolvem diretamente a biologia e a computação.”
De acordo com Barrera, outro objetivo da Icobicobi é marcar a
criação do Programa de Doutorado Interunidades em Bioinformática da USP,
instalado oficialmente em agosto do ano passado. “O desenvolvimento da
bioinformática na USP está ocorrendo por meio de um planejamento
estratégico que previa, primeiramente, a criação de um núcleo na área, o
Bioinfo, e, posteriormente, de um programa de doutorado”, explica. “Optamos
pelo doutorado antes do mestrado como forma de criar mais rapidamente uma
massa crítica capaz de levar para outras universidades, institutos de
pesquisa e empresas os conhecimentos gerados aqui e que poderão contribuir
para um maior desenvolvimento da bioinformática e da genética.”
|
Costa
e Barrera: objetivo do evento é unir competências para gerar novas
pesquisas e conhecimentos
|
O doutorado, que tem sua
sede no IME, deverá formar, por volta de julho de 2006, seus primeiros 15
doutores em bioinformática. “No Brasil, além da USP, somente a Universidade
Federal de Minas Gerais mantém um programa na área”, conta Costa.
Segundo o pesquisador, a tendência mundial da área é formar redes
de pesquisa que não ficarão restritas à bioinformática. “É por isso que,
com a organização do evento, pretendemos reunir pesquisadores e estudiosos
das mais variadas áreas, como evolução, ecologia, desenvolvimento animal e
neuroinformática, entre outras, hoje integradas à pesquisa genética e à
bioinformática”, diz. “Ao longo do século passado, a biologia, como todas
as áreas do conhecimento, passou por um processo de especialização que a
afastou dos outros ramos da ciência. Nos últimos anos, com o surgimento de
um processo de reintegração geral de todas as áreas da ciência, a
informática foi se estabelecendo como uma poderosa ferramenta para
construção de modelos, vitais para a análise dos resultados das pesquisas
biológicas com genes.”
Costa afirma ainda que, em 2002, os Estados Unidos decidiram
conceder recursos para as pesquisas na área de neuroinformática – voltada
para o apoio aos estudos neurológicos – somente para os grupos de
cientistas que estejam dispostos a compartilhar os dados a serem obtidos.
“No Brasil ainda não existe nenhuma determinação desse tipo, mas a Fapesp
tem dado passos nesse sentido, o que nos leva a crer que essa conferência
será um marco para a integração da bioinformática com outras áreas.”
As palestras e mesas-redondas do encontro abordarão temas variados,
passando pela agronomia, inteligência artificial, biofísica, bioquímica e
chegando à genética e à neuroinformática. Entre os convidados se encontram
os norte-americanos Michael Bittner (National Human Genome Research
Institute), especialista em pesquisas genéticas ligadas ao câncer, e
Stephen Koslow (National Institute of Mental Health), que se dedica a
pesquisas sobre doenças mentais de origem genética.
“A conferência representa mais uma importante iniciativa voltada
para a união de esforços entre os diferentes grupos de pesquisa que atuam
no Estado de São Paulo, em outras regiões do Brasil e no exterior”, diz
Luiz Nunes de Oliveira, pró-reitor de Pesquisa da USP. “A bioinformática é,
atualmente, uma área do conhecimento vital para o desenvolvimento da genética
e da biotecnologia como um todo”, afirma. “A agricultura, por exemplo,
fundamental para a realidade econômica brasileira, tem se mostrado capaz de
incorporar os avanços com uma velocidade maior que a de todos os outros
setores.”
Os pesquisadores interessados em apresentar seus trabalhos poderão
enviar resumos explicativos até 15 de abril. Os textos devem ter uma página
mostrando inovações obtidas por meio de pesquisas desenvolvidas na área de
bioinformática. Todos os trabalhos aceitos serão publicados posteriormente
em um site. Os melhores serão selecionados para publicação na edição
especial do Journal of Real-Time Imaging, que será lançada em setembro. Mais
informações sobre a conferência podem ser obtidas no endereço
http://www.vision.ime. usp.br/icobicobi.
Tecnologia “grampeia conversas”
dos genes
Para mapear os “sinais” dos genes ou mRNAs, os cientistas
utilizam a tecnologia de DNAs microarrays, lâminas que comportam até 8
mil genes de uma só vez e são capazes de registrar a produção dos mRNAs.
Ao serem digitalizadas, essas lâminas permitem a geração das imagens que
serão analisadas. Segundo Júnior Barrera, presidente do Núcleo de
Bioinformática da USP (Bioinfo), é como se os especialistas grampeassem
trechos de uma conversa entre os genes. “O desafio é, a partir daí,
decifrar o conteúdo de toda a conversa, cujos rumos determinam o
funcionamento das células”, diz. “É aí que entram os modelos matemáticos
computacionais desenvolvidos pela bioinformática, cuja aplicação permite
que se conheça esse funcionamento e, como uma nova droga, ao ser ingerida
por um paciente com determinada doença, por exemplo, pode interferir
nesse processo de interação entre os genes, modificando-o e gerando
condições para que a pessoa seja curada.”
|
|